O artigo de McKay et al. 1 aborda a problemática da falta de uma definição consistente para termos como "elite" e "bem treinado" na literatura científica relacionada à fisiologia do exercício. Para resolver essa questão, os autores propõem um framework de classificação de participantes em seis níveis, que variam desde sedentários (Nível 0) até atletas de classe mundial (Nível 5). Este sistema considera o volume de treinamento e os resultados de desempenho, permitindo uma classificação mais precisa e comparável entre estudos.
Métodos: O estudo desenvolveu um framework baseado em estatísticas populacionais e consultas com especialistas de várias disciplinas, criando categorias que abrangem desde indivíduos sedentários até atletas de classe mundial. O framework é aplicável prospectivamente (durante o recrutamento de participantes) e retrospectivamente (em revisões sistemáticas ou meta-análises).
Resultados: O framework define critérios específicos para cada nível, como o volume de treinamento e os resultados em competições. Esse framework foi dividido em seis níveis, cada um com critérios específicos baseados em volume de treinamento, compromisso com a competição e nível de desempenho alcançado. Aqui estão os principais resultados e características de cada nível:
1. Nível 0: Sedentário
- Descrição: Indivíduos que não atendem aos requisitos mínimos de atividade física recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Eles realizam apenas atividades físicas ocasionais ou incidentais, como caminhar para o trabalho.
- Proporção Estimada da População: Aproximadamente 46% da população global.
2. Nível 1: Ativo Recreacional
- Descrição: Indivíduos que cumprem os requisitos mínimos da OMS para atividade física, praticando atividades moderadas a vigorosas. Podem participar de vários esportes ou atividades físicas, mas sem foco competitivo.
- Proporção Estimada da População: Entre 35% e 42% da população global.
3. Nível 2: Treinado/Desenvolvimento
- Descrição: Indivíduos que se identificam com um esporte específico e treinam regularmente (cerca de três vezes por semana) com o objetivo de competir em competições locais. Não há requisitos rigorosos de desempenho ou habilidade para se enquadrar neste nível.
- Proporção Estimada da População: Entre 12% e 19% da população global.
4. Nível 3: Altamente Treinado/Nível Nacional
- Descrição: Atletas que competem em nível nacional e participam de programas de treinamento estruturados e periodizados. Eles estão se desenvolvendo para atingir normas máximas ou quase máximas dentro do seu esporte.
- Proporção Estimada da População: Aproximadamente 0,01% a 0,03% da população global.
5. Nível 4: Elite/Nível Internacional
- Descrição: Atletas que competem em competições internacionais, como campeonatos mundiais ou ligas profissionais internacionais. Eles treinam em níveis máximos ou quase máximos e alcançam performances dentro de cerca de 7% do recorde mundial.
- Proporção Estimada da População: Cerca de 0,0025% a 0,006% da população global.
6. Nível 5: Classe Mundial
- Descrição: Este nível é reservado para os atletas mais excepcionais, incluindo medalhistas olímpicos, recordistas mundiais e finalistas em campeonatos mundiais. São considerados a elite máxima do esporte, com treinamento e desempenho no topo das capacidades humanas.
- Proporção Estimada da População: Menos de 0,00006% da população global.
O framework foi criado para fornecer uma padronização que permita uma comparação mais precisa entre estudos e uma melhor interpretação dos resultados de pesquisa. Isso é crucial porque, em muitos casos, os efeitos de uma intervenção podem variar significativamente dependendo do nível de treinamento e da habilidade dos participantes. Por exemplo, intervenções que mostram benefícios em atletas "treinados" podem não ter o mesmo efeito em atletas de "elite", conforme demonstrado em estudos sobre periodização de carboidratos e suplementação com suco de beterraba.
Esses resultados são fundamentais para o avanço da ciência do esporte, pois ajudam a garantir que os estudos sejam aplicáveis aos grupos populacionais corretos, promovendo maior rigor e consistência nas conclusões científicas.
Questões para debate:
1. Como a adoção desse framework pode impactar a interpretação dos resultados em diferentes estudos de fisiologia do exercício?
2. Quais são as limitações de aplicar esse framework em esportes com menos dados quantitativos disponíveis para avaliação de desempenho?
Referência
1 McKay, A. K. A. et al. Defining Training and Performance Caliber: A Participant Classification Framework. Int J Sports Physiol Perform 17, 317-331, doi:10.1123/ijspp.2021-0451 (2022).