Veja como o ganho de massa muscular não é algo meramente estético. A adaptação pode beneficiar a saúde metabólica e prevenir doenças crônicas.
O tecido muscular esquelético, constituinte majoritário do corpo humano, representa cerca de 40% da massa corporal total. Este tecido desempenha funções essenciais além de sua conhecida capacidade de gerar força e movimento, sendo um regulador chave do metabolismo energético, especialmente no que diz respeito à glicose. A captura de aproximadamente 80% da glicose pós-prandial é realizada pelo músculo esquelético, que se destaca como o principal reservatório de glicogênio no corpo. A manutenção da sensibilidade à insulina neste tecido é crucial para a estabilidade da glicose sanguínea e para a prevenção do diabetes mellitus tipo 2 (DM2).
Considerando esses aspectos, propõe-se que o incremento da massa muscular esquelética, ou hipertrofia, possa conferir benefícios à saúde metabólica, além de seus efeitos estéticos e funcionais. A hipertrofia pode ser induzida por várias estratégias, sendo o treinamento resistido (TR) uma das mais prevalentes e acessíveis. O TR envolve exercícios que promovem a contração muscular contra resistências variadas, induzindo adaptações morfológicas e fisiológicas que resultam no aumento do tamanho, força, potência e capacidade oxidativa muscular.
Benefícios da Hipertrofia Muscular no Tratamento da Obesidade e Diabetes
A obesidade, definida pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, afeta negativamente a saúde e a qualidade de vida, servindo como um precursor para o DM2. Este último é caracterizado por uma disfunção na produção ou resposta à insulina, hormônio regulador da glicemia. A presença de obesidade e DM2 eleva o risco de morbidade e mortalidade associadas a complicações cardiovasculares, renais, hepáticas, neurológicas e oncológicas.
A hipertrofia muscular surge como uma estratégia terapêutica promissora para a obesidade e o DM2, atuando por múltiplos mecanismos. Primeiramente, aumenta o gasto energético basal, facilitando o alcance de um balanço energético negativo necessário para a perda de peso. Ademais, aprimora a composição corporal, diminuindo a massa gordurosa e incrementando a massa magra, o que pode mitigar a inflamação, o estresse oxidativo, a lipotoxicidade e melhorar a secreção de adipocinas, elementos relacionados à resistência à insulina e ao DM2.
Além disso, a hipertrofia muscular eleva a sensibilidade à insulina nos músculos, otimizando a captação e uso da glicose, contribuindo para a redução dos níveis glicêmicos e da hemoglobina glicada. Promove também o aumento na capacidade de estocagem de glicogênio muscular, potencializando a prevenção de episódios hipoglicêmicos. Destaca-se ainda a estimulação na liberação de miocinas pelo tecido muscular, substâncias com efeitos benéficos potenciais sobre o metabolismo glicídico e lipídico, a função endotelial, a pressão arterial e a secreção insulínica.
Conclusão e Reflexão
Considerando os benefícios substantivos da hipertrofia muscular esquelética para a saúde metabólica e prevenção de doenças crônicas, questiona-se a percepção limitada desse fenômeno à estética. Estratégias como treinamentos de força e dietas orientadas ao ganho muscular demonstram um potencial clínico significativo, indo além do mero aprimoramento estético. Essa reflexão é fundamental para a revisão de conceitos e a valorização da hipertrofia muscular em contextos de saúde e bem-estar.
Este trabalho é fruto de discussões em um grupo de estudo na academia @bioecoesportes, localizada em Piracicaba, reconhecida pela excelência e profissionalismo de sua equipe, fundamentada em bases científicas sólidas para melhor atender e informar.
Para informações adicionais, recomenda-se a consulta ao artigo:
1. Wackerhage, H., Hinrichs, A., Wolf, E., & Hrabe de Angelis, M. (2024). Turning fat into muscle: can this be an alternative to anti-obesity drugs such as semaglutide? *Journal of Physiology*, n/a.