O artigo de Oranchuk et al. (2019), publicado no Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, revisa sistematicamente os efeitos do treinamento isométrico em diferentes parâmetros, como a posição articular (ângulos de flexão/extensão), intensidade e intenção de contração, nas adaptações neuromusculares, morfológicas e de desempenho.
Posição Articular e Comprimento Muscular
O treinamento isométrico realizado em posições articulares que colocam o músculo em maior alongamento (ex.: flexão de joelho superior a 70°) demonstrou ganhos superiores de hipertrofia muscular (0,86% a 1,69% por semana), quando comparado ao treinamento em posições de maior encurtamento muscular (0,08% a 0,83% por semana). Além disso, essas posições mostraram melhor transferência para o desempenho dinâmico e adaptação estrutural dos tendões.
Intensidade de Treinamento
Intensidades superiores a 70% da contração isométrica voluntária máxima (MVIC) foram essenciais para promover adaptações na rigidez e na estrutura dos tendões. Por outro lado, a intensidade não demonstrou grande influência na hipertrofia muscular, desde que o volume total de treino fosse controlado.
Intenção de Contração
Treinos com intenção balística, nos quais a força é produzida rapidamente, resultaram em ganhos superiores na produção de força rápida (1,2% a 13,4% por semana), quando comparados às contrações progressivas. Esse fator é particularmente relevante para esportes de potência, onde a aplicação rápida de força é um requisito.
Adaptações Neuromusculares
O treinamento com intenção balística demonstrou maior ativação neuromuscular (até 10,5% por semana), refletindo melhorias específicas na capacidade de produzir força rapidamente durante os primeiros 150 ms da contração muscular — um período crítico para movimentos explosivos.
Adaptações Tendíneas
O treinamento em posições de maior alongamento muscular, combinado com altas intensidades, resultou em maiores aumentos na rigidez dos tendões. Essa adaptação pode otimizar a eficiência na transmissão de força e reduzir o atraso eletromecânico.
O treinamento isométrico oferece uma abordagem segura e eficaz, especialmente em contextos de reabilitação e preparação física. A prática de exercícios em posições que colocam o músculo em maior alongamento, aliada a altas intensidades, é recomendada para atletas que buscam ganhos em massa muscular e melhorias na função tendínea.
O estudo destaca a importância de manipular variáveis como posição articular, intensidade e intenção de contração para otimizar os benefícios do treinamento isométrico. Embora a transferência direta para o desempenho dinâmico possa ser limitada, os ganhos em força máxima, hipertrofia e qualidade do tendão oferecem importantes aplicações tanto para atletas quanto para a reabilitação.
Referência: Oranchuk DJ, Storey AG, Nelson AR, Cronin JB. Isometric training and long-term adaptations: Effects of muscle length, intensity, and intent. Scand J Med Sci Sports. 2019.