Treinamento de força em Superfícies Instáveis

Superfícies Instáveis no Treinamento Físico
O treinamento em superfícies instáveis ganhou grande popularidade no cenário esportivo. Vídeos postados em sites como o youtube® ilustram atletas fazendo uso de implementos de instabilidade em suas sessões de treino, sendo tais métodos muitas vezes referenciados como sessões de “treinamento funcional” [2].

Atualmente, a literatura considera a instabilidade como uma variável do treinamento de força, moduladora de repostas neuromusculares agudas e crônicas [3, 4]. Os implementos utilizados variam desde discos rígidos como os Wobble-boards, infláveis como o Dynadisc®, o BOSU®, plataformas como a T-Bow®, e as bolas suíças.

O que dizem os estudos?
A inclusão da instabilidade nos exercícios tem se mostrado associada com reduções na capacidade de produção de força pico, na taxa de desenvolvimento de força, e na atividade neural da musculatura agonista [3-5]. Tal comportamento foi observado de forma aguda [1, 2], levando possivelmente de forma crônica a atenuações nos incrementos de testes de desempenho como os saltos contra movimento e de velocidade de deslocamento [1, 2, 5].

Chulvi-Medrano e colaboradores [2], observaram a produção de força e atividade dos músculos para espinhais no exercício de levantamento terra, quando o mesmo foi realizado na condição estável, e posteriormente com o uso de dois implementos de instabilidade, o BOSU® e o T-Bow®. Os resultados ilustraram uma maior produção de força e atividade muscular na condição estável do que nas instáveis, concluindo então que o uso de tais implementos não promoveria uma maior ativação muscular, desfavorecendo assim a produção de força.

McBride e colaboradores [5], observaram que a produção da força máxima isométrica e da taxa de desenvolvimento de força, sofreram reduções de 45.6% e 40.5% com o uso de bolas infláveis no agachamento isométrico. A atividade eletromiográfica integrada dos músculos vasto lateral e vasto medial também foi cerca de 37.3% e 34.4% menor do que na situação convencional, respectivamente. 

Os estudos citados acima se concentraram em observar o impacto da instabilidade de forma aguda, agora observando agora o fenômeno de forma crônica, Cressey e colaboradores [1] reportaram que após 10 semanas de treinamento com exercícios adicionais em discos instáveis, o incremento do desempenho de atletas de futebol em testes de potência e velocidade de deslocamento, foi atenuado quando comparado ao grupo que realizou apenas os treinamentos em superfícies estáveis.

Diferentemente de demais experimentos, observamos no estudo supracitado um aspecto muito interessante no tocante ao programa de treino com a instabilidade. Nenhum exercício estável foi substituído por instáveis, mas sim houve um acréscimo de exercícios com instabilidade, fato que se mostrou responsável pela atenuação do incremento da potência muscular.  Os autores concluíram que complementar o treinamento convencional com o uso de tais implementos, pode trazer atenuações nos ganhos de força e potência muscular.

Conclusões
Os estudos avaliados demonstram que o treinamento em superfícies instáveis, embora popular no cenário esportivo, apresenta limitações significativas na produção de força e ativação muscular quando comparado ao treinamento em superfícies estáveis. De forma aguda, observa-se uma redução na capacidade de produção de força pico, na taxa de desenvolvimento de força e na atividade neural da musculatura agonista. De forma crônica, o uso de superfícies instáveis pode atenuar os ganhos em testes de desempenho como saltos e velocidade de deslocamento.

Os estudos observaram consistentemente que a produção de força e a atividade muscular são superiores em condições estáveis. Portanto, com base nas observações experimentais, é prudente considerar que o treinamento em superfícies instáveis deve ser aplicado de forma cuidadosa e contextualizada, tendo em vista suas implicações na performance e desenvolvimento muscular. O uso indiscriminado de superfícies instáveis pode não apenas deixar de potencializar o treinamento, como também atenuar os ganhos obtidos por meio de métodos mais tradicionais.

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Bons estudos!

Referências
1. Cressey EM, West CA, Tiberio DP, Kraemer WJ, Maresh CM. The effects of ten weeks of lower-body unstable surface training on markers of athletic performance. J Strength Cond Res. 2007 May;21(2):561-7.
2. Chulvi-Medrano I, Garcia-Masso X, Colado JC, Pablos C, de Moraes JA, Fuster MA. Deadlift muscle force and activation under stable and unstable conditions. J Strength Cond Res. 2010 Oct;24(10):2723-30.
3. Behm DG, Anderson KG. The role of instability with resistance training. J Strength Cond Res. 2006 Aug;20(3):716-22.
4. Anderson K, Behm DG. The impact of instability resistance training on balance and stability. Sports Med. 2005;35(1):43-53.
5. McBride JM, Cormie P, Deane R. Isometric squat force output and muscle activity in stable and unstable conditions. J Strength Cond Res. 2006 Nov;20(4):915-8.

Autor : Bernardo N. Ide, Ph.D.

Bernardo N. Ide é Bacharel em Educação Física e possui Mestrado e Doutorado em Biodinâmica do Movimento Humano pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Atuou com docente em cursos de graduação e na Pós-Graduação em Bioquímica e Fisiologia e Treinamento Esportivo, da Unicamp.