No estudo recente de Suchomel et al. (2025), pesquisadores investigaram as diferenças entre a velocidade da barra (barbell velocity) e do sistema (system velocity) durante a execução de derivados do levantamento de peso, como jump shrug (JS), hang high pull (HHP), hang power clean (HPC), hang clean pull (HCP) e countermovement shrug (CMS). O objetivo foi entender como essas variáveis influenciam a prescrição de cargas no Treinamento Baseado em Velocidade (VBT).
Os resultados mostraram que a velocidade média da barra foi consistentemente maior do que a velocidade do sistema em todos os exercícios e cargas. Por exemplo, no jump shrug com 20% do 1RM do hang power clean, a velocidade média da barra foi de 1,49 m/s, enquanto a velocidade do sistema foi de apenas 1,20 m/s. Com cargas maiores, como 60% do 1RM, a velocidade da barra ainda superou a do sistema: 1,26 m/s contra 1,02 m/s.
Isso ocorre porque a barra se desloca de forma independente do corpo durante os movimentos, especialmente na fase de transição, quando os quadris e os joelhos são reposicionados para iniciar a tripla extensão (extensão simultânea de quadris, joelhos e tornozelos). Enquanto a barra continua subindo, o sistema como um todo não mantém a mesma aceleração devido à redistribuição da força durante essa fase.
No hang high pull, as diferenças foram ainda mais pronunciadas. Com 20% do 1RM, a velocidade média da barra foi de 1,79 m/s, enquanto a do sistema foi de apenas 0,75 m/s. Mesmo em cargas moderadas, como 60% do 1RM, a barra manteve uma vantagem significativa: 1,37 m/s contra 0,77 m/s.
A velocidade de pico, que mede o ponto máximo de aceleração durante o movimento, foi outra variável crítica. No jump shrug, a velocidade de pico da barra foi de 2,93 m/s com 20% do 1RM, enquanto a velocidade do sistema alcançou apenas 2,38 m/s. Em cargas maiores, como 60% do 1RM, a barra ainda apresentou vantagem, atingindo 2,22 m/s contra 1,91 m/s no sistema.
No hang power clean, a diferença na velocidade de pico foi ainda mais notável. Com 20% do 1RM, a barra atingiu 2,45 m/s, enquanto o sistema alcançou apenas 1,23 m/s. Com 60% do 1RM, a barra manteve 2,17 m/s contra 1,49 m/s no sistema. Esses dados reforçam que a velocidade de pico é sensível à técnica e ao tipo de exercício, sendo especialmente importante em exercícios balísticos como o jump shrug.
No hang high pull, a velocidade de pico da barra com 20% do 1RM foi de 2,92 m/s, enquanto a do sistema foi de 1,58 m/s. A diferença permaneceu grande mesmo com 60% do 1RM, com a barra atingindo 2,25 m/s e o sistema apenas 1,64 m/s.
Os resultados demonstram claramente que a velocidade da barra e do sistema são variáveis distintas e não devem ser usadas de forma intercambiável na prescrição de carga. Para levantadores de peso olímpico, a velocidade da barra pode ser mais importante, pois o objetivo é maximizar a aceleração da barra para completar o levantamento. No entanto, para atletas gerais que usam derivados do levantamento de peso para melhorar a potência e a força, a velocidade do sistema pode ser um indicador mais relevante, já que reflete o movimento integrado do corpo e da carga.
O jump shrug mostrou-se particularmente eficaz como um exercício de desenvolvimento da velocidade, especialmente em cargas leves e moderadas (20–60% do 1RM). Por outro lado, o countermovement shrug e o hang clean pull se destacaram em cargas elevadas (100–140% do 1RM), sendo ideais para maximizar as adaptações relacionadas à força.
O estudo reforça a importância de entender as nuances entre a velocidade da barra e do sistema no contexto do VBT. A escolha da métrica adequada e do exercício certo pode otimizar a prescrição de carga e potencializar as adaptações desejadas. Assim, ao aplicar o VBT, os treinadores devem considerar os objetivos específicos do atleta, optando por medir a velocidade da barra ou do sistema conforme o tipo de estímulo necessário.
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