Examinando o manuscrito de La Scala et al. (La Scala Teixeira et al., 2017), foram encontradas referências citadas que não apoiam suas declarações.
No tópico "treinamento funcional: base conceitual" (La Scala Teixeira et al., 2017), o trabalho de Okada et al. (Okada et al., 2011) é citado para apoiar três declarações.
No entanto, ao analisar o manuscrito de Okada (Okada et al., 2011), percebemos que ele não apoia nenhuma das declarações. O estudo citado (Okada et al., 2011) visa determinar as relações entre estabilidade do core, movimentos funcionais, desempenho e identificar testes de avaliação que melhor preveem ou representam o desempenho motor.
Vinte e oito indivíduos saudáveis realizaram testes em 3 categorias: estabilidade do core, desempenho motor e a tela de movimento funcional (FMS). Não foram observadas correlações significativas entre estabilidade do core e escores FMS. As correlações fraca a moderadas observadas (veja a Tabela 2 do artigo) sugeriram que estabilidade do core e FMS não são fortes preditores de desempenho motor nas tarefas avaliadas (Okada et al., 2011). Assim, além de não apoiar as declarações, a referência citada (Okada et al., 2011) concluiu que movimentos funcionais e treinamento de estabilidade do core não devem ser o foco principal para aumentos no desempenho motor; precisamente o oposto da afirmação de La Scala Teixeira!
No último parágrafo do tópico "características do treinamento funcional" (La Scala Teixeira et al., 2017), os trabalhos de Tomljanovi? et al. e Heinrich et al. (Tomljanovi? et al., 2011; Heinrich et al., 2012) são citados para apoiar a seguinte declaração: "o foco no desenvolvimento da estabilidade do core é uma característica marcante dos programas de TF".
O estudo de Tomljanovi? et al. (Tomljanovi? et al., 2011) visava determinar os efeitos de cinco semanas de TF e treinamento de força tradicional sobre medidas antropométricas (massa corporal, percentual de gordura, massa magra e água corporal total), e testes de desempenho neuromuscular (corrida de ida e volta de 5-10-5 metros e o teste do hexágono), habilidade de salto (tempo no ar, pico de potência, altura do salto, tempo de contato com o solo), testes de habilidade de arremesso (arremesso de medicine ball e arremesso de medicine ball deitado), e variáveis de sprint (10 m e 20 m e resultados de tempo de 10-20 m) em sujeitos masculinos treinados jovens.
Mudanças não significativas foram observadas para medidas antropométricas. Melhorias significativas foram observadas no arremesso de medicine ball e nos valores do teste de corrida de ida e volta e do teste do hexágono para o grupo de TF. Em contraste, o treinamento de força tradicional aumentou significativamente o tempo de contato com o solo, pico de potência e desempenho na corrida de ida e volta e no teste do hexágono, mas diminuiu o desempenho no arremesso de medicine ball. Os autores concluíram que TF e treinamento de força tradicional influenciaram o desempenho neuromuscular de forma diferente.
Heinrich et al. (Heinrich et al., 2012) visavam comparar o treinamento Mission Essential Fitness a um programa padrão de Teste de Aptidão Física do Exército (APFT) sobre mudanças na aptidão, fisiologia e composição corporal. O programa Mission Essential Fitness incluiu "movimentos funcionais" focados em força, potência, velocidade e agilidade. Medições pré e pós incluíram o Teste de Aptidão Física do Exército, indicadores fisiológicos, composição corporal e outros indicadores de aptidão. Os principais resultados foram que os participantes do Mission Essential Fitness aumentaram significativamente seus push-ups, supino e desempenho em flexibilidade.
No entanto, quando comparados aos participantes do Teste de Aptidão Física do Exército, eles diminuíram sua corrida de 2 milhas e frequência cardíaca do teste de degraus. Os autores afirmam que o Mission Essential Fitness está focado em aumentar a estabilidade do core. No entanto, o parâmetro não foi avaliado, não apoiando a declaração anterior de que "o foco no desenvolvimento da estabilidade do core é uma característica marcante dos programas de TF" (La Scala Teixeira et al., 2017).
Além disso, parece que o termo "estabilidade do core" não tem uma definição clara (Wirth et al., 2017). A maioria das especificações de exercícios não foi testada quanto à eficácia nem comparada com as especificações de carga normalmente usadas para treinamento de força, e o aumento da estabilização parece ser o resultado do aumento da força muscular (Wirth et al., 2017). Assim, se "estabilidade do core" é o desejo de adaptação, os exercícios de treinamento de força clássicos devem ser os estímulos básicos (Wirth et al., 2017).
O uso de referências que não apoiam as afirmações feitas em um trabalho científico pode ter várias implicações negativas. Dentre elas:
1. **Comprometimento da Validade**: A validade das conclusões do estudo pode ser seriamente comprometida se as fontes citadas não apoiam as afirmações feitas. Isso pode levar a questionamentos sobre a integridade e rigor científico do trabalho.
2. **Desinformação**: A disseminação de informações incorretas ou mal interpretadas pode ocorrer, o que é especialmente problemático em campos como medicina, engenharia e ciências sociais, onde as decisões baseadas em pesquisas afetam vidas humanas e sistemas sociais.
3. **Degradação da Confiança**: A confiança na literatura científica pode ser abalada quando outros pesquisadores ou profissionais tentam basear seu próprio trabalho em resultados anteriormente publicados e descobrem inconsistências.
4. **Problemas Éticos**: Citar fontes de forma inadequada pode levantar questões éticas, que vão desde a falta de rigor acadêmico até o plágio, dependendo da gravidade e do contexto.
5. **Impacto na Revisão por Pares**: Trabalhos futuros podem ser prejudicados durante o processo de revisão por pares se os revisores identificarem que as referências citadas não apoiam as afirmações feitas.
6. **Retração de Artigos**: Em casos extremos, o artigo em questão pode ser retratado, o que tem implicações sérias para a carreira dos autores e para o campo de estudo como um todo.
7. **Efeitos em Citações e Financiamentos**: Artigos que são desacreditados dessa forma são menos propensos a serem citados por outros pesquisadores e podem impactar negativamente a obtenção de futuros financiamentos para pesquisa.
8. **Prejuízo à Comunicação Científica**: O objetivo final da publicação científica é contribuir para o corpo de conhecimento existente. Referências inadequadamente citadas minam esse objetivo e impedem o avanço da ciência.
Em resumo, o impacto de referências citadas que não apoiam as afirmações em um artigo científico é multifacetado e prejudicial tanto para os autores quanto para a integridade da pesquisa científica em geral.
Recomendamos a leitura do trabalho na íntegra