Publicado mais um estudo mostrando as inconsistências do treinamento baseado em velocidade (VBT)

  • 03-03-2024

Introdução
O treinamento baseado em velocidade (VBT) é colocado como um método contemporâneo de treinamento resistido que permite a prescrição precisa e objetiva de intensidades e volumes de treinamento resistido (1).

Uma das aplicabilidades do VBT é o estabelecimento das relações carga-velocidade, que são comumente usadas para estimar a carga de uma repetição máxima (1RM). Os proponentes do VBT, sugerem que essas estimativas podem ser obtidas em maiores frequências e auxiliam na manipulação mais precisa de cargas ao longo das sessões (2). Todavia, os estudos de Greig e colaboradores (2) já mostraram que as previsões de 1RM baseadas nas relações carga-velocidade demonstram uma tendência a superestimar os valores reais de 1RM. Esse viés pode resultar em prescrição de carga inadequada quando estimativas são usadas para ajustar a carga levantada sessão a sessão (2).

A mais nova revisão sistemática e meta análise conduzida por LeMense e colaboradores (3) teve como objetivo avaliar a validade da estimativa de 1RM a partir da velocidade da barra no exercício de agachamento. Para tanto, uma busca sistemática em 3 bases de dados eletrônicas foi realizada usando combinações das seguintes palavras-chave: "treinamento baseado em velocidade", "perfil carga-velocidade", "velocidade média", "velocidade propulsiva média", "velocidade de pico", "força máxima", "1RM", "estimativa", "predição", "agachamento traseiro" e "regressão". A busca identificou 372 artigos únicos, sendo 4 estudos incluídos na análise final. A significância foi definida como nível de p menor que 0,05.

Resultados e Discussão:
Um total de 27 efeitos de 71 indivíduos com idades entre 17 e 25 anos foram analisados; 85,2% dos efeitos foram obtidos em indivíduos do sexo masculino. As cargas de 1RM medidas variaram de 86,5 a 153,1 kg, enquanto as cargas de 1RM estimadas variaram de 88,6 a 171,6 kg. Usando um modelo de efeitos aleatórios de 3 níveis, foi observado que cargas de 1RM no agachamento foram superestimadas quando derivadas da velocidade da barra. 

Os resultados da meta-análise atual indicaram que o VBT superestimou o 1RM no agachamento livre e que esse método pode não ser uma medida válida de força muscular. Com base no grande erro observado entre o 1RM estimado e medido, o grau de superestimação do 1RM pelo método MVT provavelmente variaria de 3,4 a 20,1 kg. Assim sendo, os autores concluíram que o VBT não é uma opção viável para estimar 1RM no agachamento com peso livre e que os profissionais devem ter cautela ao estimar 1RM a partir da relação carga-velocidade.

Resumo e Aplicações Práticas:
A avaliação precisa da força máxima em qualquer exercício resistido é um componente crucial no desenvolvimento de um programa de treinamento e atualmente, o padrão-ouro para avaliação da força máxima é o teste de 1RM. 
A relação carga-velocidade tem sido proposta como um método alternativo para avaliar a carga de 1RM sem a necessidade de realizar repetidos testes de 1RM. Todavia, os resultados dos estudos indicam que a utilização da relação carga-velocidade para estimar a força máxima no agachamento com peso livre não pode ser realizada com validade adequada, gerando superestimativas consistentes da carga de 1RM. 
Dado que essas superestimativas podem chegar a cerca de 40 kg, treinadores e outros profissionais de saúde devem ter cautela ao estimar a carga de 1RM pela relação carga-velocidade. 

Referências
1. Weakley J, Mann B, Banyard H, McLaren S, Scott T, and Garcia-Ramos A. Velocity-Based Training: From Theory to Application. Strength & Conditioning Journal 43: 31-49, 2021.
2. Greig L, Aspe RR, Hall A, Comfort P, Cooper K, and Swinton PA. The Predictive Validity of Individualised Load-Velocity Relationships for Predicting 1RM: A Systematic Review and Individual Participant Data Meta-analysis. Sports Med 53: 1693-1708, 2023.
3. LeMense AT, Malone GT, Kinderman MA, Fedewa MV, and Winchester LJ. Validity of Using the Load-Velocity Relationship to Estimate 1 Repetition Maximum in the Back Squat Exercise: A Systematic Review and Meta-Analysis. The Journal of Strength & Conditioning Research 38: 612-619, 2024.

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