Ciências do Esporte: erros conceituais básicos de mecânica clássica. Por que isso precisa mudar?

Inúmeras publicações na área de ciências do esporte continuam com erros conceituais básicos de mecânica clássica [1-9]. As correções propostas são raramente acatadas e, apesar de representarem uma enorme vergonha para a área, tais erros nunca serão corrigidos por completo. Historicamente, constatamos isso.

Desde 1978, a maior parte desses erros já eram apontados [10]. Posteriormente, esforços foram realizados por grupos distintos [2, 3, 5, 6]. Mesmo assim, nada mudou. Por quê? Temos 3 hipóteses: 1) física não é uma matéria trivial e a dificuldade de entendimento é compreensível [11]; 2) Há artigos defendendo os erros, alegando fazerem parte de uma construção conceitual [12], ou que são colocados por diferentes “escolas”; 3) há quem deboche dos artigos, dizendo que não acrescentam nada, que só apresentam problemas sem soluções e são conduzidos por “pequenos grupos”.

Os grupos responsáveis por esses trabalhos são compostos pelos professores Edward Winter, Grant Abt, Duane Knudson, Howard Knuttgen, William Kraemer, Robert Newton, Duane Knudson, dentre outros [2, 3, 5, 6]. Considerando a contribuição desses pesquisadores para a ciência mundial, ao taxá-los como “pequenos grupos”, perguntamos: quais seriam os “grandes”? Já a afirmação que os artigos só apresentam problemas sem soluções, mostra a incapacidade de interpretação de texto, pois todos os artigos sempre apresentam as devidas soluções [1-9]. Não entender a mecânica Newtoniana não é um problema, mas sim, um direito de todos. Para isso, estudamos e buscamos ajuda nos poucos que possuem mais facilidade de compreensão. O problema é ignorar, tornar-se um ignorante e propagar a ignorância.

Os conceitos ignorados e, atualmente debochados pelos “grandes grupos”, contribuem para a desvalorização da nossa profissão. Continuem a ignorar e voltaremos à 1978, rumo à 2022 com a plena convicção de que realmente, nada vai mudar. Não ignorem, Mudem! Mudar, requer estudo. Mudar, requer saber interpretar e não apenas ler. Mudar, requer ter conceitos básicos para saber questionar. Quem não possui conceitos, apenas aceita e propaga. Queremos Mudar. Estudem, Questionem, Mudem!

Obrigado.
Bernardo N. Ide e Bruno V. C. Silva

Referências
1. Staunton CA, Abt G, Weaving D, Wundersitz DWT. Misuse of the term ‘load’ in sport and exercise science. Journal of Science and Medicine in Sport. 2021 2021/08/19/.
2. Vigotsky AD, Zelik KE, Lake J, Hinrichs RN. Mechanical misconceptions: Have we lost the "mechanics" in "sports biomechanics"? J Biomech. 2019 Aug 27;93(2018):1-5.
3. Winter EM, Abt G, Brookes FB, Challis JH, Fowler NE, Knudson DV, et al. Misuse of "Power" and Other Mechanical Terms in Sport and Exercise Science Research. J Strength Cond Res. 2016 Jan;30(1):292-300.
4. Ruddock AD, Winter EM. Jumping depends on impulse not power. J Sports Sci. 2016;34(6):584-5.
5. Knudson DV. Correcting the use of the term "power" in the strength and conditioning literature. J Strength Cond Res. 2009 Sep;23(6):1902-8.
6. Winter E. "Workload"--time to abandon? J Sports Sci. 2006 Dec;24(12):1237-8.
7. Winter EM. Jumping: Power or Impulse? Medicine & Science in Sports & Exercise. 2005;37(3):523-.
8. Adamson GT, Whitney RJ. Critical Appraisal of Jumping as a Measure of Human Power.  Biomechanics II; 1971. p. 208-11.
9. Ide BN, Silvatti AP, Mota GR. Comment on “Training Load and Injury: Causal Pathways and Future Directions”. Sports Medicine. 2021 2021/07/22.
10. Knuttgen HG. Force, work, power, and exercise. Med Sci Sports. 1978 Fall;10(3):227-8.
11. Knudson D. Qualitative biomechanical principles for application in coaching. Sports Biomech. 2007 Jan;6(1):109-18.
12. Kalkhoven JT, Watsford ML, Coutts AJ, Edwards WB, Impellizzeri FM. Reply to "Comment on: Training Load and Injury: Causal Pathways and Future Directions". Sports Med. 2021 Jul 22.