O debate sobre os efeitos dos intervalos de descanso curtos versus longos no treinamento de força para a hipertrofia muscular tem sido objeto de investigação em diversos estudos, mas os resultados são ambíguos e as implicações práticas permanecem incertas.
Buscando fornecer clareza sobre o tema, foi realizada uma busca sistemática da literatura nas bases de dados eletrônicas PubMed/MEDLINE, Scopus, Web of Science, Cochrane Library e Physiotherapy Evidence Database (PEDro). Foram identificados seis estudos que preencheram os critérios de inclusão: (a) um ensaio experimental publicado em revista revisada por pares em inglês; (b) o estudo comparou o uso de intervalos de descanso curtos (</=60 s) com intervalos de descanso longos (>60 s) em um exercício de resistência dinâmica tradicional usando ações musculares concêntricas e excêntricas, sendo a única diferença no treinamento de resistência entre os grupos a duração do intervalo de descanso entre as séries; (c) pelo menos um método de medição das mudanças na massa muscular foi utilizado no estudo; (d) o estudo teve duração mínima de quatro semanas, empregou uma frequência de treinamento de resistência de pelo menos duas vezes por semana, e (e) utilizou participantes humanos sem doenças crônicas ou lesões conhecidas.
As evidências atuais indicam que tanto os intervalos de descanso curtos quanto os longos podem ser úteis para alcançar ganhos na hipertrofia muscular. Descobertas inéditas envolvendo participantes treinados e medidas sensíveis para detectar mudanças na hipertrofia sugerem uma possível vantagem no uso de intervalos de descanso longos (>60 s) para potencializar efeitos hipertróficos. No entanto, devido à escassez de estudos com desenhos semelhantes, mais pesquisas são necessárias para fornecer uma diferenciação clara entre essas duas abordagens.
A abordagem de intervalo de descanso pode variar com base no nível de esforço e seleção de exercícios. Quando o esforço é máximo ou próximo do máximo, um intervalo de descanso mais longo pode ser necessário para manter o desempenho. Por outro lado, um esforço submáximo pode permitir o treinamento com intervalos de descanso mais curtos. A seleção de exercícios também é um dos componentes-chave que dita a duração ótima do intervalo de descanso. Exercícios multiarticulares com pesos livres são mais exigentes e fatigantes, justificando intervalos de descanso mais longos. Por outro lado, exercícios isolados em máquinas são menos exigentes e reduzem a necessidade de um longo intervalo de descanso. O uso de intervalos de descanso mais curtos pode ser benéfico para acumular estresse metabólico - um aspecto importante para o crescimento muscular.
Como consideração final, a melhor abordagem para uma sessão de treinamento de resistência focada na hipertrofia pode ser enfocar o volume de treinamento, executando exercícios complexos e multiarticulares e incorporando intervalos de descanso mais longos na primeira parte da sessão de treino, e depois mudar o foco para induzir um maior estresse metabólico por meio de exercícios isolados e intervalos de descanso mais curtos na segunda parte da sessão de treino. Essa hipótese requer mais estudos para validação.