Periodização significa simplesmente divisão em períodos. Apesar de inúmeras definições e conceitos colocados na literatura atual [1], a mais simples e pontual forma de definir uma periodização do treinamento é como uma forma de organização e estruturação de um planejamento de treino [2]. Um de seus princípios básicos é a manipulação lógica, integrativa e sequencial das variáveis do treinamento (e.g. intensidade, volume, pausas etc.) [3].
Ela foi construída com base na experiência com o esporte de alto rendimento dos cientistas da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviética e baseada nos trabalhos do endocrinologista canadense Hans Selye, sobre a síndrome geral de adaptação [3]. Foi inicialmente desenvolvida para atletas de modalidades de força e potência [3] e tinha como objetivos promover um ápice no desempenho dos atletas em determinadas competições, aperfeiçoar o processo de recuperação entre as sessões e os períodos de treinamento e minimizar o potencial overtraining e incidência de lesões [4].
Atualmente, seus conceitos originais foram expandidos para o planejamento de inúmeras outras modalidades, bem como para a prática de exercícios com objetivos estéticos (ganho de massa muscular e emagrecimento), e/ou de promoção da saúde.
O chamado “modelo clássico” de periodização, concebido pelo pesquisador Lev Pavlovitch Matveyev, consiste na divisão do planejamento em ciclos de treino [3]. Os termos microciclo, mesociclo e macrociclo foram usados para descrever uma semana, um mês e vários meses de treinamento, respectivamente. Os macrociclos foram constituídos pelos denominados períodos de preparação, competição e transição. Já os mesociclos, constituem geralmente um período de 2 a 7 semanas, onde se processa a organização e sucessão de cargas de treino com características diferenciadas.
Por último, o microciclo é a estrutura que organiza e assegura a coerência das cargas ao longo de uma sequência determinada de sessões de treino. Possui geralmente de 3 a 14 sessões, podendo ter duração de 5 a 14 dias, embora normalmente corresponda a uma semana de treinamento [5].
O microciclo é composto por uma sequência de sessões. Antigamente, conotações e cargas eram atribuídas a eles, tais como choque, ordinário, estabilizador, com cargas de 80-100%, 60-80%, 40-60%, respectivamente. Todavia, tais conceitos sempre causaram muitas dúvidas e confusões entre pesquisadores e demais estudantes da área de ciências do esporte na área.
Como a periodização foi inicialmente desenvolvida para atletas de modalidades de força e potência, como os levantamentos olímpicos e básicos [3], tais porcentagens de carga destacadas são referentes ao % do teste de uma repetição máxima (1RM) [6]. Assim sendo, a transposição para prescrição de intensidades e cargas de microciclos de treinamento para outras capacidades, modalidades de endurance, ou intermitentes, não é condizente.
Referências
1. DeWeese B, Gray H, Sams M, Scruggs S, Serrano A. Revising the definition of periodization: Merging historical principles with modern concern. Olympic Coach. 2013;24(1):5-18.
2. Hasegawa H, Dziados J, Newton RU, Fry AC, Kraemer WJ, Hákkinen K. Periodized Training Programmes for Athletes. Handbook of Sports Medicine and Science: Strength Training for Sport; 2000. p. 69-134.
3. DeWeese BH, Hornsby G, Stone M, Stone MH. The training process: Planning for strength–power training in track and field. Part 1: Theoretical aspects. Journal of Sport and Health Science. 2015;4:308-17.
4. Matveev LP, Zdornyj AP. Fundamentals of sports training: Progress Publishers; 1981.
5. Issurin VB. New horizons for the methodology and physiology of training periodization. Sports Med. 2010 Mar 1;40(3):189-206.
6. Verkhoshansky Y, Siff MC, Yessis M. Supertraining: Verkhoshansky; 2009.
