A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) afeta 26% da
população mundial e ainda está em franco crescimento. Apesar de ser uma doença
agravante, grande parte de sua etiologia multifatorial permanece obscura. Um
foco recente de pesquisas nessa linha trata da importância do Sistema Nervoso
Autônomo (SNA) na progressão da doença. Após uma breve revisão fisiopatológica,
nosso texto discutirá sobre o potencial terapêutico do exercício no tratamento
da HAS.
A regulação da Pressão Arterial (PA) do corpo humano possui
o SNA em papel central. Sua disfunção precede o desenvolvimento da HAS e é
marcada por um predomínio excessivo da atividade simpática sobre a vagal. Isso
eleva o risco de desenvolvimento da doença, com seus efeitos deletérios bem
estabelecidos, e até de arritmias e morte súbita. Um dos efeitos positivos do exercício
físico, em especial o de endurance, no controle da HAS, é justamente nessa função
autonômica.
A liberação de substâncias vasodilatadoras como
prostaglandinas e o Óxido Nítrico possuem papel central nesse mecanismo. Elas
promovem a simpatólise funcional, atenuando a vasoconstrição induzida pelo
tônus simpático e o output simpático central. Esse efeito central se dá via
diminuição dos níveis plasmáticos de angiotensina ll, dessensibilização do
núcleo hipotalâmico paraventricular e do núcleo rostral ventrolateral do bulbo
e regiões centrais estimulantes do simpático que respondem a esse peptídeo.
Além disso, o exercício físico também possui a capacidade de
aumentar o tônus vagal parassimpático, que se reflete em aumento da
variabilidade da frequência cardíaca e otimização da sua recuperação após o
exercício. Ambos são importantes marcadores prognósticos da função
cardiovascular. Ademais, há também melhora na função dos barorreceptores, que
auxiliam no controle da PA. O exercício físico pode agir melhorando a
complacência vascular nas áreas que abrigam essas estruturas, otimizando seu
funcionamento.
Pietila et al (2002), observaram melhora de 72% no controle
da PA em pacientes com insuficiência cardíaca crônica submetidos a uma
intervenção de 6 meses de treinamento de endurance associado ao de força. Essas
alterações, ajudam a explicar o potencial terapêutico do exercício nas doenças
cardiovasculares, que em alguns casos, possui eficácia comparável e até
superior a ação de muitas das classes de medicamentos usualmente utilizadas.
Não é à toa que a prática frequente de exercício físico consta em praticamente
todos os posicionamentos de tratamento de HAS.
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