É comum, nas disciplinas básicas da graduação em Ciências do Esporte e Educação Física — como bioquímica, fisiologia do exercício e biomecânica —, que os alunos busquem, desde o início, a aplicação direta dos conteúdos à prescrição de exercícios. Trata-se de uma preocupação válida, especialmente em cursos voltados à prática profissional. No entanto, o que se observa com frequência é a formação de um ciclo problemático: na ânsia de aplicar, muitos deixam de compreender os conceitos fundamentais — e, com isso, não conseguem aplicar de maneira fundamentada quando chega o momento.
Esse fenômeno é mais grave do que aparenta. Ele reflete não apenas uma ansiedade por resultados práticos, mas uma dificuldade em compreender a lógica da formação científica, que pressupõe a construção de conhecimento em camadas. O conteúdo básico fornece os alicerces necessários para que, posteriormente, se compreenda a lógica dos métodos de treino, sua periodização, e as decisões que envolvem o planejamento do treinamento.
Quando esses alicerces não são consolidados, os alunos chegam às disciplinas aplicadas sem domínio dos mecanismos que sustentam o raciocínio do treinamento. Dificuldades para compreender curvas força-tempo, princípios fisiológicos da adaptação, fundamentos da prescrição de volume e intensidade, entre outros, tornam-se frequentes.
A formação, então, passa a ser construída de maneira fragmentada. Os alunos, em muitos casos, recorrem a planilhas prontas, estratégias repetidas de redes sociais, ou tentativas de aplicação baseadas em analogias frágeis. Não há autonomia crítica, e a intervenção profissional se torna tecnicista, desvinculada da ciência.
Diante desse cenário, cabe à academia refletir: como estimular o interesse pela aplicação sem abrir mão da complexidade dos conteúdos? Como mostrar que o conhecimento aplicado não se opõe ao teórico — mas depende dele?
Formar bons profissionais em ciências do esporte exige ir além da superfície. Exige tempo, estudo, e principalmente, o entendimento de que prescrever bem é consequência de compreender profundamente.