O envelhecimento humano é inevitável, mas a ciência mostra que ele não precisa ser sinônimo de fragilidade. O Treinamento de Força (Musculação) tem se destacado como uma ferramenta poderosa na promoção da saúde muscular, óssea e funcional de adultos mais velhos. A seção dedicada a musculação no artigo publicado por Chodzko-Zajko e colaboradores (2009) oferece uma revisão abrangente dos benefícios fisiológicos e clínicos desse tipo de treinamento em idosos.
Ganhos expressivos de força e potência
Os autores
destacam que adultos mais velhos conseguem aumentar significativamente sua
força muscular por meio da musculação, com ganhos variando de 25% a mais de
100%, dependendo da intensidade e duração do programa de treinamento.
Curiosamente, algumas pesquisas mostram que idosos podem obter ganhos de força
comparáveis aos de adultos mais jovens, especialmente quando o treinamento é
bem estruturado.
Além da força, a
musculação também promove melhorias substanciais na potência muscular – uma
variável crucial para a manutenção da independência funcional, como levantar-se
de uma cadeira ou subir escadas. Essas melhorias são ainda mais evidentes
quando se utilizam protocolos de movimento rápido e de alta velocidade.
Qualidade muscular e composição corporal
Outro aspecto
importante é a qualidade muscular (muscle quality – MQ), definida como a força
ou potência produzida por unidade de massa muscular. Os estudos indicam que a musculação
melhora significativamente a MQ, muitas vezes além do que seria esperado apenas
pelo aumento da massa muscular, sugerindo melhorias neuromusculares, como maior
recrutamento de unidades motoras e menor ativação de músculos antagonistas.
Do ponto de
vista estético e metabólico, a musculação tem impacto positivo sobre a
composição corporal, promovendo aumento da massa livre de gordura (massa
muscular) e redução da gordura corporal total. Há inclusive evidências de que
mulheres idosas respondem com reduções significativas na gordura intra-abdominal
e subcutânea.
Densidade óssea e saúde metabólica
A preservação da
densidade mineral óssea (BMD) também se beneficia da musculação, especialmente
quando os treinos são de alta intensidade e com sobrecarga progressiva. Isso é
particularmente importante para a prevenção de osteoporose e fraturas em
idosos.
Em termos
metabólicos, a musculação pode melhorar o perfil lipídico (colesterol e
triglicerídeos) e a utilização de gordura como fonte de energia. No entanto, os
efeitos sobre a taxa metabólica basal e hormônios anabólicos como testosterona
e IGF-1 ainda são inconsistentes e precisam de mais estudos.
Saúde mental e funcionalidade
Não apenas o
corpo, mas também a mente se beneficia da musculação. A prática regular tem
mostrado eficácia no tratamento da depressão clínica, além de melhorar aspectos
de bem-estar e qualidade de vida, como autoestima, dor corporal e vitalidade.
Esses benefícios são mais evidentes com treinos de intensidade moderada a alta.
Funcionalmente, a
musculação melhora atividades do dia a dia, como caminhar, levantar-se e manter
o equilíbrio. Isso se traduz em maior autonomia e menor risco de quedas e
hospitalizações.
Conclusão
A seção sobre a musculação
do artigo de Chodzko-Zajko et al. deixa claro que ela é uma estratégia
fundamental para preservar e até restaurar capacidades físicas em adultos mais
velhos. Longe de ser apenas um complemento, a musculação deve ser considerado
pilar central nos programas de saúde pública e prescrição de exercícios para o
envelhecimento saudável.
Referência
American College of Sports Medicine, Chodzko-Zajko, W. J., Proctor, D.
N., Fiatarone Singh, M. A., Minson, C. T., Nigg, C. R., Salem, G. J., &
Skinner, J. S. (2009). American College of Sports Medicine position stand.
Exercise and physical activity for older adults. Medicine and science
in sports and exercise, 41(7), 1510–1530.
https://doi.org/10.1249/MSS.0b013e3181a0c95c