Influência do Nível de Força nas Adaptações ao Treinamento

  • 10-07-2025

Um estudo conduzido por James et al. (2018), publicado no Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, examinou como o nível de força inicial afeta as adaptações a um programa de treinamento composto por exercícios de levantamento olímpico, ações pliométricas e movimentos balísticos. Essa investigação responde a uma questão central na prescrição de treinamentos para atletas de diferentes níveis: indivíduos mais fortes respondem melhor a estímulos de potência do que aqueles mais fracos?

Objetivo e Metodologia

O estudo recrutou 24 homens ativos, dos quais 16 foram selecionados após categorização por nível de força relativa (1RM agachamento por kg de massa corporal). Os participantes foram divididos em dois grupos: mais fortes (1RM = 2,01 ± 0,15 kg/kg) e mais fracos (1RM = 1,20 ± 0,20 kg/kg). Ambos os grupos seguiram o mesmo protocolo de 10 semanas de treinamento balístico integrado, com três sessões semanais supervisionadas, organizadas em dois blocos de cinco semanas, separados por uma semana de pausa para avaliações.

As variáveis avaliadas incluíram a velocidade de pico no salto com carga (principal desfecho), força e potência sob diferentes condições de carga, ativação muscular via eletromiografia e a análise temporal da curva força-tempo no salto.

Resultados Principais

Desempenho Neuromuscular

Os participantes mais fortes apresentaram um aumento significativamente maior na velocidade de pico já na avaliação intermediária (linha de base: 2,65 ± 0,10 m/s para meio do teste: 2,80 ± 0,17 m/s), em comparação com os mais fracos (2,43 ± 0,09 para 2,47 ± 0,11 m/s). No pós-teste, a diferença entre os grupos deixou de ser estatisticamente significativa. Enquanto os mais fracos apresentaram uma resposta mais lenta, porém contínua, os mais fortes atingiram um platô precoce.

A potência média aumentou em ambos os grupos, mas com maior efeito no grupo mais fraco ao final do estudo. No entanto, os mais fortes apresentaram maior velocidade no ponto de pico de potência na fase inicial do treinamento, indicando uma transferência superior para ações atléticas de alta velocidade.

Relação Força–Velocidade

O grupo mais forte apresentou um deslocamento da curva força-velocidade para valores maiores já na avaliação intermediária, refletindo ganhos tanto em força quanto em velocidade. Contudo, entre a 5ª e a 10ª semana, houve regressão nos valores de força, indicando perda de capacidade de produção de força máxima. O grupo mais fraco apresentou uma progressão contínua ao longo das 10 semanas, com ganhos simultâneos em força e velocidade.

Ativação Muscular

Somente o grupo mais forte apresentou aumento significativo na taxa de subida da ativação eletromiográfica (EMG RoR) do vasto lateral (VL), indicando melhora na velocidade de recrutamento neuromuscular. Embora não tenham ocorrido diferenças estatísticas significativas entre os grupos nas demais variáveis EMG, os tamanhos de efeito foram consistentemente maiores no grupo mais forte para todas as musculaturas avaliadas (VL, VM e BF), tanto em EMG médio quanto em RoR.

Mecânica do Salto

As análises das curvas força-tempo mostraram que os mais fortes foram capazes de antecipar o pico de força e aplicar maiores forças excêntricas já na metade do protocolo, otimizando o uso do ciclo alongamento-encurtamento. Já os mais fracos apresentaram essas melhorias apenas ao final do programa, com maior ganho de força nas fases iniciais do salto.

Discussão e Perspectivas

Este estudo apresenta evidências robustas de que indivíduos mais fortes demonstram adaptações mais rápidas às expressões de velocidade após um programa de treinamento balístico variado. Os achados sustentam a hipótese de que uma base de força elevada favorece uma resposta mais eficaz a estímulos de alta velocidade, possivelmente devido a características neurais mais desenvolvidas e melhor coordenação intermuscular.

Contudo, o estudo também mostra que a exclusão de treinos de força máxima durante esse tipo de intervenção pode limitar os ganhos ou mesmo causar regressão nos mais fortes. Apesar da inclusão de exercícios pesados (como o power clean com até 85% de 1RM), a força máxima não foi mantida. Isso sugere que a manutenção de estímulos de força é necessária, mesmo durante fases com ênfase em potência.

Em conclusão, o nível de força inicial deve ser considerado na periodização do treinamento. É benéfico alcançar um bom nível de força máxima antes de enfatizar ações balísticas. Indivíduos mais fortes podem obter ganhos mais rápidos, desde que o treinamento de força continue a ser mantido ao longo do processo.

Referência:
James LP, Haff GG, Kelly VG, Connick MJ, Hoffman BW, Beckman EM. The impact of strength level on adaptations to combined weightlifting, plyometric, and ballistic training. Scand J Med Sci Sports. 2018;28(5):1494–1505. https://doi.org/10.1111/sms.13045

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