Os Erros Conceituais nas Publicações Científicas

Estudo aponta uso incorreto de "Potência" e outros termos mecânicos nas pesquisas em ciência do esporte e do exercício

Apesar da publicação do Sistema Internacional de Unidades (SI) em 1960, ainda persiste uma ampla utilização incorreta dos termos e nomenclatura da mecânica na descrição do desempenho de exercícios. Esse uso inadequado se aplica principalmente à falta de distinção entre massa e peso, velocidade e rapidez, e especialmente aos termos "trabalho" e "potência". Esses termos são aplicados incorretamente em todo o espectro, desde exercícios de alta intensidade e curta duração até exercícios de resistência de longa duração. 

As soluções incluem a adoção do termo "intensidade" nas descrições e categorizações dos desafios impostos a um indivíduo durante o exercício, seguida pelo uso correto dos termos e unidades do SI adequados ao tipo específico de exercício realizado. Essa adoção deve ocorrer por parte dos autores e revisores de relatórios de pesquisas em esporte e exercício, a fim de satisfazer os princípios e práticas da ciência e permitir o avanço do campo.

Quando o peso corporal é relatado, ele deve ser expresso em newtons. No entanto, com frequência, em periódicos de alto prestígio, mesmo aqueles que têm "ciência" em seus títulos, os artigos publicados permitem a expressão do peso corporal em quilogramas.

As palavras "potência" e "explosivo" são amplamente aplicadas na pesquisa e na prática profissional em tarefas que são breves e exigem ativação neuromuscular máxima, como saltos, golpes, chutes e arremessos, além de levantamento de peso e treinamento resistido. Isso se deve, em parte, à proliferação de sistemas baratos e fáceis de usar para avaliar a cinemática e a cinética durante esses movimentos, principalmente na área de força e condicionamento. 

Tais dispositivos produzem uma série de variáveis, algumas medidas diretamente e outras derivadas com base na física newtoniana. No entanto, muitas vezes, essas variáveis são mal definidas, não são válidas ou simplesmente não representam o desempenho sendo avaliado. Uma particular preocupação é o uso da palavra "explosivo". Nada realmente "explode" no ser humano. Recomendamos que o termo "explosivo" não seja mais utilizado para descrever o movimento humano.

Se a ciência do esporte e do exercício quiser avançar, é necessário manter os princípios e práticas científicas. As descrições do exercício devem fazer o uso correto de termos científicos básicos, nomenclatura e unidades. É necessário maior reconhecimento e utilização da segunda lei de Newton do movimento como explicação de como as forças modificam o movimento, em vez de variáveis secundárias menos precisas nos relatórios de pesquisa e sua revisão crítica.

Muitos erros no uso da nomenclatura do SI podem ser corrigidos com a adoção do termo "intensidade" para categorizar o exercício em termos de desafio real ou percebido, e em domínios baseados nas respostas fisiológicas.

Para uma análise mais profunda sobre esse tema, recomendamos a leitura completa do artigo publicado, disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26529527

Esperamos que, com uma abordagem mais precisa e científica, possamos avançar no campo da ciência do exercício e do esporte, aprimorando nossa compreensão do desempenho neuromuscular e promovendo melhores práticas para os profissionais de saúde. A adoção de terminologias corretas e o uso apropriado das unidades do SI são fundamentais para garantir a qualidade e a credibilidade da pesquisa nessa área em constante evolução.

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Autor : Bernardo N. Ide, Ph.D.

Bernardo N. Ide é Mestre, Doutor pela Unicamp e Docente da Pós em Bioquímica e Fisiologia Aplicadas ao Treinamento Físico, Unicamp.