Exercício Isométrico com Grande Massa Muscular: Uma Alternativa Eficiente no Controle da Hipertensão Arterial

  • 24-03-2025

A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição de elevada prevalência e representa um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e insuficiência cardíaca. Estima-se que mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo convivem com a hipertensão, e muitas delas não conseguem manter níveis saudáveis de pressão arterial apenas com o uso de medicamentos. Por isso, cresce o interesse por abordagens não farmacológicas que contribuam para o controle da pressão arterial, com destaque para o exercício físico.

Uma forma de exercício que tem ganhado espaço no contexto do tratamento da hipertensão é o exercício isométrico (EI) – modalidade na qual o músculo é contraído sem que ocorra movimento das articulações. Exemplos comuns incluem a preensão palmar com dinamômetro e o agachamento na parede (conhecido como wall squat), em que a pessoa permanece em uma posição fixa contra uma superfície, ativando intensamente os músculos, sem deslocamento corporal.

Um recente estudo publicado na Brazilian Journal of Science and Movement (2025) buscou reunir e analisar criticamente as evidências científicas sobre o uso do EI, considerando especificamente o tamanho da massa muscular envolvida durante os exercícios. A revisão investigou tanto os efeitos agudos (imediatos, após uma sessão) quanto os efeitos crônicos (após semanas ou meses de prática regular), e comparou resultados obtidos com exercícios que recrutam pequena massa muscular (PMM), como a mão e o antebraço, com aqueles que utilizam grande massa muscular (GMM), como os músculos das pernas e do tronco.

Evidências dos efeitos agudos e crônicos

Os principais achados da revisão indicam que:

  • Uma única sessão de exercício isométrico já é capaz de reduzir temporariamente a pressão arterial. Esse fenômeno é chamado de hipotensão pós-exercício isométrico (HPEI) e pode durar de minutos a algumas horas. Estudos mostraram que o agachamento na parede, por exemplo, pode reduzir a pressão sistólica em até 17 mmHg nos minutos seguintes ao exercício.

  • O treinamento isométrico crônico, realizado regularmente por semanas ou meses, promove reduções sustentadas da pressão arterial. Estas reduções estão associadas a adaptações cardiovasculares, como aumento da disponibilidade de óxido nítrico, melhora da função endotelial e redução da resistência vascular periférica. Em alguns estudos, observou-se que 12 a 24 semanas de treinamento com agachamento isométrico na parede foram suficientes para reduzir a pressão sistólica em até 14 mmHg em pacientes hipertensos.

  • Exercícios com grande massa muscular parecem ser mais eficazes na promoção desses efeitos, quando comparados com protocolos que utilizam músculos menores, como a preensão manual. Isso possivelmente se deve à maior solicitação metabólica e ao envolvimento de um maior volume de tecido muscular, o que promove uma resposta cardiovascular mais robusta.

Mas é seguro para todos?

Apesar dos benefícios, a prática do EI, especialmente em populações com risco cardiovascular elevado, exige cuidados. A revisão destaca a importância de:

  • Avaliação médica prévia para pacientes com doenças cardíacas, aneurismas ou histórico de eventos cardiovasculares;
  • Monitoramento da pressão arterial com equipamentos validados durante as sessões;
  • Supervisão por profissionais especializados em fisiologia do exercício, capazes de ajustar a intensidade e o tempo de contração adequadamente;
  • Observação rigorosa da técnica de execução, a fim de evitar sobrecargas musculoesqueléticas.

Ainda que o EI possa provocar elevações transitórias da pressão durante a execução do esforço, os estudos analisados demonstram que, quando bem planejado e supervisionado, o exercício isométrico é seguro e eficaz, tanto para indivíduos normotensos quanto hipertensos.

Implicações para a prática clínica e esportiva

Os resultados reforçam a relevância do EI como uma estratégia complementar no manejo da hipertensão arterial. O fato de poder ser realizado com equipamentos simples, em casa ou em ambientes de trabalho, amplia sua acessibilidade. Além disso, os efeitos positivos sobre a função cardiovascular, mesmo com sessões curtas (geralmente entre 8 e 15 minutos), tornam o EI uma alternativa interessante para pessoas com restrições de tempo ou mobilidade.

No entanto, como em qualquer intervenção, é fundamental individualizar a prescrição. O exercício deve ser adaptado às condições clínicas do praticante e sempre respeitar os princípios de progressão, controle da carga e recuperação.


Referência principal:
Euzébio TA, Sezana-Costa S, Rios-Neto DF, Andrade LFO, Melo GF, Polito MD, Simões HG, Prestes J, Ide BN, Santos CPC, Rosa TS, Moraes MR. Exercício Isométrico com Grande Massa Muscular é o Melhor Modelo para Prescrição de Exercícios na Hipertensão Arterial Sistêmica? Uma Revisão Integrativa. Brazilian Journal of Science and Movement. 2025; 33(1).

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