A hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma condição de elevada prevalência e representa um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como infarto, AVC e insuficiência cardíaca. Estima-se que mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo convivem com a hipertensão, e muitas delas não conseguem manter níveis saudáveis de pressão arterial apenas com o uso de medicamentos. Por isso, cresce o interesse por abordagens não farmacológicas que contribuam para o controle da pressão arterial, com destaque para o exercício físico.
Uma forma de exercício que tem ganhado espaço no contexto do tratamento da hipertensão é o exercício isométrico (EI) – modalidade na qual o músculo é contraído sem que ocorra movimento das articulações. Exemplos comuns incluem a preensão palmar com dinamômetro e o agachamento na parede (conhecido como wall squat), em que a pessoa permanece em uma posição fixa contra uma superfície, ativando intensamente os músculos, sem deslocamento corporal.
Um recente estudo publicado na Brazilian Journal of Science and Movement (2025) buscou reunir e analisar criticamente as evidências científicas sobre o uso do EI, considerando especificamente o tamanho da massa muscular envolvida durante os exercícios. A revisão investigou tanto os efeitos agudos (imediatos, após uma sessão) quanto os efeitos crônicos (após semanas ou meses de prática regular), e comparou resultados obtidos com exercícios que recrutam pequena massa muscular (PMM), como a mão e o antebraço, com aqueles que utilizam grande massa muscular (GMM), como os músculos das pernas e do tronco.
Os principais achados da revisão indicam que:
Uma única sessão de exercício isométrico já é capaz de reduzir temporariamente a pressão arterial. Esse fenômeno é chamado de hipotensão pós-exercício isométrico (HPEI) e pode durar de minutos a algumas horas. Estudos mostraram que o agachamento na parede, por exemplo, pode reduzir a pressão sistólica em até 17 mmHg nos minutos seguintes ao exercício.
O treinamento isométrico crônico, realizado regularmente por semanas ou meses, promove reduções sustentadas da pressão arterial. Estas reduções estão associadas a adaptações cardiovasculares, como aumento da disponibilidade de óxido nítrico, melhora da função endotelial e redução da resistência vascular periférica. Em alguns estudos, observou-se que 12 a 24 semanas de treinamento com agachamento isométrico na parede foram suficientes para reduzir a pressão sistólica em até 14 mmHg em pacientes hipertensos.
Exercícios com grande massa muscular parecem ser mais eficazes na promoção desses efeitos, quando comparados com protocolos que utilizam músculos menores, como a preensão manual. Isso possivelmente se deve à maior solicitação metabólica e ao envolvimento de um maior volume de tecido muscular, o que promove uma resposta cardiovascular mais robusta.
Apesar dos benefícios, a prática do EI, especialmente em populações com risco cardiovascular elevado, exige cuidados. A revisão destaca a importância de:
Ainda que o EI possa provocar elevações transitórias da pressão durante a execução do esforço, os estudos analisados demonstram que, quando bem planejado e supervisionado, o exercício isométrico é seguro e eficaz, tanto para indivíduos normotensos quanto hipertensos.
Os resultados reforçam a relevância do EI como uma estratégia complementar no manejo da hipertensão arterial. O fato de poder ser realizado com equipamentos simples, em casa ou em ambientes de trabalho, amplia sua acessibilidade. Além disso, os efeitos positivos sobre a função cardiovascular, mesmo com sessões curtas (geralmente entre 8 e 15 minutos), tornam o EI uma alternativa interessante para pessoas com restrições de tempo ou mobilidade.
No entanto, como em qualquer intervenção, é fundamental individualizar a prescrição. O exercício deve ser adaptado às condições clínicas do praticante e sempre respeitar os princípios de progressão, controle da carga e recuperação.
Referência principal:
Euzébio TA, Sezana-Costa S, Rios-Neto DF, Andrade LFO, Melo GF, Polito MD, Simões HG, Prestes J, Ide BN, Santos CPC, Rosa TS, Moraes MR. Exercício Isométrico com Grande Massa Muscular é o Melhor Modelo para Prescrição de Exercícios na Hipertensão Arterial Sistêmica? Uma Revisão Integrativa. Brazilian Journal of Science and Movement. 2025; 33(1).
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