Um estudo robusto conduzido por Li e colaboradores, publicado no periódico Medicine & Science in Sports & Exercise em 2018, oferece novas e relevantes evidências sobre a importância da força muscular em detrimento da massa muscular como indicador de risco de mortalidade em adultos mais velhos. A investigação utilizou dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES) coletados entre 1999 e 2002, incluindo 4.449 participantes com 50 anos ou mais, e acompanhou suas taxas de mortalidade até o ano de 2011.
O estudo teve como objetivos principais avaliar:
A prevalência de baixa massa muscular (LMM) e baixa força muscular (LMS);
As associações individuais e combinadas dessas variáveis com a mortalidade por todas as causas;
A influência de fatores como síndrome metabólica (MetS), tempo sedentário e atividade física no lazer (LTPA) nessas associações.
A massa muscular foi avaliada por meio da massa magra apendicular (ALM) medida por densitometria (DXA), com e sem ajuste pelo índice de massa corporal (ALM/BMI). A força muscular foi mensurada por força isocinética extensora de joelho, sendo os 25% com menores valores classificados como de baixa força muscular.
A prevalência de baixa massa muscular foi de 23,1% (ALM) e 17,0% (ALM/BMI); a de baixa força muscular foi de 19,4%.
A força muscular baixa esteve fortemente associada ao aumento da mortalidade por todas as causas, com odds ratio (OR) de 2,34 (IC95%: 1,71–3,20), independentemente da definição usada para a massa muscular.
Em contraste, a baixa massa muscular por si só não apresentou associação significativa com mortalidade, a menos que ajustada pelo BMI (OR: 1,47; IC95%: 1,08–2,00).
A combinação de baixa força com baixa massa elevou ainda mais o risco de mortalidade (OR: 2,66; IC95%: 1,53–4,61), mas a baixa massa muscular sem redução de força não resultou em risco aumentado.
A associação entre baixa força muscular e mortalidade manteve-se robusta mesmo após ajustes por síndrome metabólica, tempo sedentário e níveis de atividade física.
Este estudo reafirma que a perda de força muscular — frequentemente referida como “dinapenia” — é um marcador mais sensível e relevante para desfechos adversos do envelhecimento do que a sarcopenia definida apenas pela redução da massa muscular. A avaliação funcional, especialmente a força dos extensores de joelho, mostrou-se um indicador clínico útil, prático e mais alinhado com a realidade funcional dos idosos.
Os autores também destacam que a força muscular pode ser melhorada independentemente de aumentos significativos na massa muscular, sugerindo que programas de treinamento resistido voltados à força devem ser prioridade em intervenções com populações envelhecidas.
A presente investigação sugere que, para fins de avaliação clínica e epidemiológica em idosos, a ênfase deve ser colocada na mensuração da força muscular e não apenas na quantidade de massa muscular. Este achado tem implicações importantes para a redefinição dos critérios diagnósticos da sarcopenia e para o delineamento de estratégias preventivas e terapêuticas voltadas à promoção da saúde e longevidade funcional.
Referência: Li, R., Xia, J., Zhang, X., Gathirua-Mwangi, W. G., Guo, J., Li, Y., McKenzie, S., & Song, Y. (2018). Associations of Muscle Mass and Strength With All-Cause Mortality Among US Older Adults. Medicine & Science in Sports & Exercise, 50(3), 458–467. https://doi.org/10.1249/MSS.0000000000001448